Saturday, April 30, 2011

Volto ao meu blog Ana Candocha Opinião Própria para cobrar descontingenciamento das verbas da Educação e Cultura para Bibliotecas públicas

Quanto tempo não escrevo aqui. Dedico-me aos 140 caracteres do twitter. E não vou deixar de dedicar-me a esta interação imediata com o interlocutor. Mas está na hora de voltar a falar mais.O blog é outro instrumento. Poderei migrar suas postagens para o "pássaro" e os passarinhos lerão.


Clamo com todos os meus pares pelo descontingenciamento das verbas da educação e da Cultura em punição ao universo educacional cultural, em punição à cadeia do livro. Os gestores públicos precisam aprender como funciona o mercado do livro e se importar até os confins da capilaridade.

Empreendemos, escolhem nossos livros e nos punem com a fragmentação das entregas e a pena da demora, um desprezar contínuo.

Todos bajulam o livro e tantos querem virar livros. Mas como se faz um livro? Inúmerostrabalhadores participam do processo dessa feitura! Todos vivem do livro e são impedidos de viver pela falta de justas políticas públicas para o setor que enfrenta um país onde poucos se relacionam com livros.

O desafio é levar, pela educação e pela oferta de livros, levar a população a se relacionar com livros. E as Bibliotecas públicas precisam ser abastecidas. Não podem esperar.

Nada pode ficar à espera em se tratando de Educação e Cultura. Que os gestores se importem.

Tuesday, November 02, 2010

PRIMAVERA dos LIVROS NA LIVRARIA CULTURA 2010

Primavera na Cultura - São Paulo|2010



A Primavera na Cultura reunirá editores, autores e intelectuais de diversas áreas do conhecimento para refletir sobre pluralidades e diversidades - étnicas, políticas, de gênero, artísticas e literárias.



Livraria Cultura do Conjunto Nacional

Aberto ao público. Gratuito!



Data: Quarta-feira|03 DE NOVEMBRO



Horário: 13h00—14h30:

Livros demais, Livrarias de menos, poucos leitores ou livros desinteressantes?

Ana Cândida Costa, Marcus Vinícius Alves, Fábio Herz. Mediação: Haroldo Ceravolo Sereza.





Horário: 15h00—17h00

LIVRO EM BYTES:

Pedro Puntoni, Angeline Monteiro Prata, Ricardo Lemos Soares, Sérgio Sá. Mediação: Luiz Carlos Merten.



Horário: 13h00—15h00

ESCRITORES NEGROS:

Eduardo de Assis Duarte, Luiz Silva (Cuti), Kiusam de Oliveira. Mediação: Sérgio Cláudio dos Santos.



Horário: 16h00—18h00

CRÔNICAS:

Humberto Werneck, Fernando Portela, Antonio Prata.



Quinta-feira|04 DE NOVEMBRO



Horário: 10h00—11h30

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:

Wagner Pralon Mancuso, Neli Aparecida e Mello, Alem Youssef, Henrique Eisi Toma. Mediação: Juliana Bontorim.



Horário: 13h00—14h30

PERSPECTIVAS DO NOVO GOVERNO:

Ricardo Azevedo, Valério Arcary, Igor Fuser. Mediação: Celso Marcondes.



Horário: 15h30—17h00

FUTEBOL, SEXO, DROGAS & ROCK 'N' ROLL:

Karina Andrade, Marcelo Duarte, Carmem Cacciacarro. Mediação: Armando Antenore.



Horário: 18h30—20h00

Vampiros me mordam!

Adriano Messias, Arianne Brogini, Marcos Torrigo. Mediação: Ivan Finotti





Sexta-feira|05 DE NOVEMBRO



Horário: 10h00—11h30

Letras em Cena – Leituras Dramáticas



Horário: 13h00—14h30

METAMORFOSES: A transposição da literatura para o teatro, o cinema e a televisão:

Beto Brant, Denise Paraná, Mário Viana, Marília Toledo. Mediação: Neusa Barbosa.



Horário: 15h00—17h00

A CULTURA e o ESTADO

Felipe Ehrenberg (México), Juan Manuel Bonet (Paris. Espanha), Fabiano dos Santos (MinC. Brasil). Mediação: Robinson Borges Costa.



Data: Sábado|06 DE NOVEMBRO



Horário: 13h00—15h00

Jornalismo esportivo e História do Lance!

Mauricio Stycer, Celso Unzelte, Chico Lelis.



Horário: 16h00—18h00

Frida Precolombiana, guia para cegos

Lourdes Hernández Fuentes, Gênese Andrade, Maria Alice Milliet, Mediação: Mirian Paglia Costa. Performance: Moara Fernandes, atriz.



Horário: 19h00—21h00

MÚSICA & POESIA - O Jogo das Palavras

Daniel Taubkin, Luiz Roberto Guedes, Ana Elisa Ribeiro. Mediação: Luiza Lusvarghi.



Data: Domingo|07 DE NOVEMBRO



Horário: 15h00—16h30

Quadrinistas em Ação!

Eloar Guazzelli e Laudo Ferreira. Mediação: Pedro Cirne de Albuquerque.



Horário: 17h00—19h00

São Paulo: Um lugar para chamar de seu!

Donizete Galvão, Mario Marinho, Mônica Rodrigues da Costa, José Paes de Lira (Lirinha), Mediação: Ana Paula Alfano.



Quarta-feira|10 DE NOVEMBRO

Horário: 10h00—11h30

Educação, Cultura & Cidadania

Gilberto Souza, Augusto Chagas, Paulo Roberto Padilha. Mediação: Laura Capriglione





Horário: 18h30—20h00

Identidades: Genealogia da Geração Cibernética

Marcelo Coelho, Artur Matuck,Tatiana Garcia, Ivana Arruda Leite. Mediação: Zara Peixoto Vieira.



Quinta-feira|11 DE NOVEMBRO

Horário: 16h00—18h00

Cultura Gastronômica

Tatiana Damberg, Chris Campos, Luciana Mastrorosa, Alex Herzog. Mediação: Camila Perlingeiro.





Horário: 18h30—20h00

SAIA JUSTA: Moda & Literatura

Kathia Castilho, Janaina Medeiros, Silvana Holzmeister. Mediação: Joana Monteleone.





Programa completo! www.libre.org.br



Agenda:

Primavera na Cultura - São Paulo|2010

De 01 a 15 de novembro de 2010, das 9h30 às 21h30. Atividades Culturais de 03 a 12 de novembro.

Livraria Cultura do Conjunto Nacional

Av. Paulista, 2073 – São Paulo/SP

Informações pelo telefone (11) 3170-4033 ou pelos sites: www.livrariacultura.com.br/eventos e www.libre.org.br



LIBRE APRESENTA

Primavera na Cultura

Nossos livros fazem a diferença!

A Liga Brasileira de Editoras (LIBRE) apresenta a Primavera na Cultura — São Paulo|2010, na Livraria Cultura, reunindo em um só lugar obras do catálogo de mais de 100 editoras independentes, responsáveis em grande medida pela diversidade de títulos do mercado livreiro.

Do dia 01 a 15 de novembro, a Livraria Cultura do Conjunto Nacional vai expor uma seleção especial de livros das editoras da LIBRE, além de receber uma extensa programação de eventos gratuitos para o público adulto e infantil.

Com o objetivo de oferecer espaço para as editoras independentes de todo o país e conscientizar o público-leitor sobre a importância e o prazer da leitura e da bibliodiversidade, a Primavera na Cultura reunirá editores, autores e intelectuais de diversas áreas do conhecimento para refletir sobre pluralidades e diversidades - étnicas, políticas, de gênero, artísticas e literárias. Porque os livros das editoras da Libre fazem a diferença!

Agenda:

Primavera na Cultura - São Paulo|2010

De 01 a 15 de novembro de 2010, das 9h30 às 21h30

Livraria Cultura do Conjunto Nacional

Av. Paulista, 2073 – São Paulo/SP

Informações pelo telefone (11) 3170-4033 ou pelos sites: www.livrariacultura.com.br/eventos e www.libre.org.br



Curadoria: Marília Schumann e André Valuche

Mais informações para a imprensa

Primavera na Cultura e LIBRE

E credenciamento

Marília Schumann (marilia@bansen.com.br)

Clean Barros (clean@bansen.com.br)

Telefone: (55 11) 5539-2344

BANSEN & Associados

www.bansen.com.br



Sobre a Libre:

Desde 2001, as editoras independentes do país organizam um evento anual, no Rio e em São Paulo, para promover a produção dessas empresas, responsáveis por um acervo de 10.000 títulos em catálogo e 2.400.000 de exemplares impressos por ano. O sucesso do evento e a importância dessas editores no mercado deram origem, em 2002, à Liga Brasileira de Editoras (LIBRE), rede independente que trabalha cooperativamente em busca de reflexão e da ação para a ampliação do público leitor, do fortalecimento das empresas editoriais independentes e da criação de políticas públicas em favor do livro e da leitura. Além de buscar práticas para preservar a bibliodiversidade. Desde então, a LIBRE, que atualmente reúne mais de 100 editoras de vários pontos do Brasil, promove e realiza suas Primaveras, anualmente, no eixo Rio—São Paulo.

Livraria Cultura

Thaís Arruda (thais.arruda@livrariacultura.com.br)

Camila Azenha (cazenha@livrariacultura.com.br)

Telefone: (55 11) 3170-4042

www.livrariacultura.com.br



Sobre a Livraria Cultura:

A Livraria Cultura é uma empresa 100% brasileira. Fundada em 1947 por Eva Herz, é dirigida atualmente por seu filho, Pedro Herz, seus netos, Sergio e Fabio Herz, e por Maria Cecília Cares. Pioneira nas vendas pela Internet (www.livrariacultura.com.br) no Brasil, tem um cadastro com mais de 3 milhões de títulos de livros, e mais de 170 mil títulos de CDs, DVDs e LPs. Nas lojas, o acervo é de cerca de 150 mil exemplares. A Cultura está presente em 10 endereços: quatro em São Paulo, dois em Brasília, Porto Alegre, Recife, Campinas e Fortaleza. Ainda este ano, inaugura mais uma unidade, desta vez na Bahia, em Salvador.





Marilia Schumann

marilia@bansen.com.br

+55 (11) 5539-2344

Bansen & Associados

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Tuesday, March 16, 2010

Fazer livros como paixão, não como pragmatismo

Quando a paixão do fazer livros se transforma em pragmatismo.
Somente o pragmatismo pode pautar o ofício do editor? Hoje, muitas vezes, sim Proliferam as distorções,sem permissão ao direito do contraditório.Nesta onda invasora também benéfica que são os editais de compras governamentais de livros, a isonomia é desafiada e sabotada nas pontas, nas bordas das escolhas. Entram aí os vícios. Uma só universidade é encarregada da tarefa, por determinado tempo, da tarefa de compor os acervos. Dentro das universidades há grupos, ligados a editoras locais. A universidade tem uma respeitável editora, que é preterida na hora de editar os Cadernos produzidos em um dos importantes centros de pesquisa. Uma editora particular, que edita a coordenadora das escolhas e também passa a editar os cadernos do centro de reflexão na área de leitura e escrita (os quais, por isenção, impedimento e ética deveriam ser editados pela editora universitária ou outra casa não envolvida diretamente com a compra de livros governamentais das bibliotecas escolares), esta editora particular, entre 15 livros inscritos no PNBE 2010, tem quase uma dezena de livros escolhidos.Entre outros casos menos ou mais emblemáticos. Seriam todos títulos relevantes? Trata-se de pares nossos. E há uma conivência até dos órgãos de classe, por ignorância ou desatenção ao fato, ou, por saber dele, uma nossa querida entidade, combativa em outras situações, cala-se. Não corrige o malfeito, omite sua opinião. Torna-se conivente, em detrimento do grupo e de todas as editoras do mercado, todos os distribuidores, todos os autores, todos os ilustradores, todos os designers, toda a cadeia produtiva do livro, toda a economia do livro, toda a ética da nação vai para o brejo com o acréscimo de omissão da nossa entidade. Em outros tempos liderou, com o apoio de outras entidades, personalidades e profissionais ligados ao livro, ou o dar-se conta pela maioria dos interessados no direito de todos aos mesmos livros exibidos nas vitrines das livrarias, a luta pela volta dos livros de catálogo nas escolhas dos acervos governamentais de livros, abolindo-se, em termos, as receitas prontas e o truncamento de obras clássicas perpetrados pelos mais espertos e os poderosos fazerem caber os livrinhos num programa bem intencionado gerador de livrinhos frankenstein. Vitória à bibliodiversidade e ao princípio da isonomia na produção e para o público-alvo, as crianças e os estudantes dos anos mais avançados. Quem sabe, os professores. Também num programa do Ministério da Cultura, no início dos anos 2000, pouco tempo depois da primeira Primavera dos Livros, tivemos de contestar uma escolha feita por uma entidade muito simpática ao livro, mas que concentrou em uma só lista a totalidade de títulos de duas autoras muito importantes para a renovação da literatura infantil brasileira, violando a isonomia. Um levantamento estatístico foi feito por colega nosso e respeitosamente apresentado. O MinC ouviu. Uma nova lista foi feita, contemplando a bibliodiversidade. As grandes autoras foram nobres,abriram-se à democratização e à universalidade. Bem como a Musa, na ocasião, sem autoelogio, com muitos títulos escolhidos, participamos da reivindicação em prol dos interesses da economia do livro em sua totalidade, pela isonomia e isenção. Na epoca tínhamos o apoio da imprensa cultural, dos cadernos de Cultura, sobretudo do Estadão, infelizmente hoje se omite. O assunto está em pauta. Todos falam dos arranjos das empreiteiras aqui fora, por que não falamos dos arranjos das editoras aqui fora, até de nossos pares, envolvidos nos vícios do patrimonialismo, das cooptações e dos aparelhamentos, e em nossa entidade, nos tornamos coniventes e pragmáticos diante desse gozo público privado espalhado, dentro e fora dela. Temos de continuar defendendo o coletivo e a coletividade nacional em todas as instâncias.

O que temos nós com os maus costumes desse "lobby de almanaque", para usar uma expressão divertida feliz de George Kornis em sua fala em uma das palestras que fez na Primavera dos Livros do Rio de Janeiro, no final de novembro de 2009?

A nossa querida imprensa está preocupada com os arranjos das empreiteiras fora dos ministérios tendo em vista os editais, mas precisam olhar para este sítio relevante que são as escolhas governamentais de livros e seus atores fora das boas intenções dos ministérios. Os resultados são descarados, as cooptações são sutis.

Seja minha editora, seja meu par, seja minha mãe, seja meu pai, meu irmão, meu tio, meus amados, nunca podemos ser coniventes e lenientes. Não vamos acusar fulano ou sicrano, mas cabe a qualquer entidade do livro, à imprensa, ao cidadão fazer parar essa ofensiva gerada também por certo alpinismo acadêmico, incitado a publicar qualquer coisa a qualquer preço, fazer currículo, o que não acontece com os verdadeiros intelectuais.

Não podemos ser coniventes com aquele tradutor que vende a tradução de um mesmo livro duas vezes e encontra o receptador num par editor. Precisamos urgente de um código de ética, nesse apagão ético universal nacional.Entra governo, sai governo. Findam-se legislaturas, iniciam-se novas legislaturas. A questão é suprapartidária, é municipal, estadual, nacional, educacional, cultural. Não faço essa reflexão para o aprimoramento profundo por minha causa (não sou excluída dos programas do livro, apenas não entendo quando obras-primas são preteridas em bibliotecas escolares e há o privilegiar de escrevinhações no lugar da palavra artística, a temática justificando a ausência literária no texto),tenho livros escolhidos em bons programas, mas isto não me deixa cega ou adepta de um pragmatismo ético. Há que se discutir profundamente a questão do livro e seus programas, inclusive batendo forte na tecla das doações amplamente solicitadas aos editores, quando empreiteiras são regiamente pagas em construções e reformas dos prédios e na hora de reabastecer os acervos, livros são pedidos aos editores. Como eles irão produzir e cumprir seus compromissos monetários? Pagar as tarifas postais, que sobem a cada hora, e às vezes nem reajustamos nossos livros? Enviar pelos correios um livro, mesmo por opções supostamente mais em conta, pode custar mais caro que um livro. Como resistir a todos os desequilíbrios juntos? Não podemos mais ser editores independentes? Temos de nos aliar a outras atividades para nos sustentarmos? Na rede da Libre iniciou-se uma saudável discussão sobre doações de livros pelos sofridos editores. Aos poucos somos ouvidos, mas queremos ser ouvidos profundamente. Pelo verde, pelo amarelo, pelo vermelho, pelo azul, PROFUNDAMENTE (esta expressão de Manuel Bandeira), que parodio no outro verso: "Eu faço livros como quem morre."

Sunday, March 14, 2010

Tempo a caminho de Maio

Chega o outono Veremos os frutos
Árvores carregadas no pomar E na
selva, no pátio Na esquina

O sortimento da banca Frutas
como paisagem de cor
Ruas da cidade, São Paulo
este o verão no asfalto

Virá o outono Em março
Quando for abril Falarão os gerânios

da sacada Maio ensolarado
de azul Sua brisa de santos

Nossa Senhora de Minas!

Ora se multiplicará o vinho
nas Bodas de Caná

20-2-2010

Saturday, March 13, 2010

José Mindlin e a Musa Editora - Homenagem perpétua



Minha avó plantava saudades perpétuas. Pareciam dálias, flores lilases. não as roxas, saudades dobradas. Seu jardim era nos fundos da casa, ao redor da casa, as goteiras caíam sobre as hortênsias (encontrei minha prima Marlene -- seu nome por causa da cantora--, nas férias, ela gosta também da lembrança desse jardim nos fundos), após ele vinha a horta. E os copos de leite ao redor do grande tanque. Em Minas. Era uma casa velha, foi derrubada, como foram criminosamente derrubadas outras casas, insubstituíveis e insultadas pelo modernoso de gosto duvidoso posto no lugar. Chamávamos casa velha, não casa antiga. A procissão da Semana Santa, com seu teatro de Maria Madalena e Verônica cantado, parava defronte na terça-feira, no dia da procissão do encontro. Mas a estação da janela da minha avó ostentava o quadro gigante: "Simão Cirineu ajuda Jesua a carregar a cruz". Era em Virgínia, Minas Gerais, no caminho das águas virtuosas: São Lourenço, Caxambu, Lambari, Cambuquira, Passa Quatro. Mamãe mora em Itajubá. Sou de lá, também de lá, Itajubá, onde tenho meus amigos e seus sólidos valores, a despeito do florescimento de todos os joios da esperteza em campos de trigo, pelo mais sórdido arrivismo, pelo culto ao dinheiro fácil e à esperteza. Nasci em Virgínia e meu avô materno Raul Ivo Moreira me registrou, como fazia com todos os primeiros netos.

Afinal quero homenagear José Mindlin, pelo homem que é, mais vivo quando morto, e pelo que fez à Musa Editora. Através da Diana Mindlin, um dos capistas da Musa de maior expressão, ele ofereceu exemplares de suas edições especiais para que figurassem no catálogo da Musa, os livros fossem vendidos e convertidos em novas edições. Compareceu aos lançamentos dos livros do Moacir Amâncio O Olho do Canário e Colores Siguientes. Foi também ao lançamento de Vozes e Silêncios, do bom poeta frei dominicano português, que passou temporada no Brasil, no convento das Perdizes, José Luiz Monteiro, hoje bibliotecário num convento medieval da Ordem, na França.

Diana Mindlin trazia com ela o carinho do pai para os livros da Musa. Reconheço-me ainda inexperiente com os negócios, pois fazer livros também é vender livros, encontrar o seu público, mesmo para aquele livro para o qual imediatamente não haja público. Mesmo para aquele livro que vá encontrar seu público "em termos de posteridade" (esta expressão é de Antonio Candido).

A Musa se mostrou de forma cabal pela edição pioneira no Brasil da História de Florença, de Nicolau Maquiavel, sugestão do professor da Universidade Federal de Santa Catarina, ao tradutor Nelson Canabarro. Baseada na capa da edição princeps, do Renascimento, Diana fez a capa antológica, clássica a capa como é clássico o livro. Fazia-se edições de O Príncipe, hoje já surgiu uma nova edição de Istories, sem assinatura do tradutor, ao gosto de um tipo de público, mesmo acadêmico que gosta de oralizar e pretensamente modernizar o estilo de um forte, elegante mas não obscuro texto de época. Diana fez outras capas que são permanentes pela solidez estética: Mulherzinhas, de Louisa May Alcott, o clássico para jovens mulheres, muitas vezes levados ao cinema, com grandes atrizes. Antologia de Antologias, os dois volumes de poesia e prosa, ainda cartões de visitas, nas livrarias como nos sebos. A capa de Vozes e Silêncios, também capa e projeto gráfico do italic;">Ouvir Wagner: Ecos Nietzschianos, de Yara Borges Caznók e Alfredo Naffah Neto, sobre a formação do Ouvinte. O arquiteto Rodrigo Mindlin fez a capa de Horácio, poeta da festa, Navegar não é preciso, 28 Odes latim-português, um livro de autoria do latinista e professor Dante Tringali.

Quando o poeta Donizete Galvão trouxe para a Musa publicar seu primeiro livro infantil, O Sapo Apaixonado: Uma história baseada em uma narrativa indígena, Betty Mindlin escreveu a Apresentação.

A Musa continua pequena e frágil. Por razões econômicas. Por incompetência em se expandir e cair na esperteza de publicar a qualquer preço. Sua escolha é um caminho penoso mas perseverante. E hoje que sua editora passou a enxergar com a experiência, levava-se apenas pela intuição ora sábia ora ingênua, agora que deixamos a idade da inocência para a idade da experiência, a Musa sabe o que quer e quer fazer tudo de uma maneira compromissal, abissal, não deixar-se morrer, ser sólida. Devemos tudo isso ÀS PESSOAS QUE NOS APOIARAM PELO CAMINHO, COM CUMPLICIDADES NO PROJETO DE MUSA EDITORA,entre todos (Carlos Clémen, Raquel Matsushita, Marina Mattos, Dante Tringali, Livraria Cultura, Livraria da Travessa, Livrarias Saraiva, Acaiaca), a atenção e delicadezas especiais de JOSÉ MINDLIN, o homem sensível, o intelectual sensível, ambos gentis, sua tranquilidade a alegria.

O que tenho, de Minas, das inscrições nas lápides, Saudades perpétuas, das dobradas, minhas e dos seus. SAUDADES DOBRADAS, flores lilases, não roxas, como dálias, plantadas por minha avó. Obrigada.

Tuesday, February 23, 2010

Biblioteca Bibliodiversidade Biblioteca do Carandiru

Inaugurou-se em local outrora o presídio do Carandiru uma Biblioteca Pública. Isto é motivo de aplauso e de festa. Todos escreveram sobre o evento, com gradas presenças. Quartim de Moraes dedicou ao fato uma reflexão, em sua coluna do Estadão, no último sábado. Que todos consultem.

O Estadão reportou, ou seja, narrou a festa e expôs as propostas do conceito dessa Biblioteca de múltiplas atrações, mas o protagonismo possa ser do livro.

A Folha fez uma matéria crítica, embora acreditando no conceito da Casa, acrescentou suas ressalvas como crítica construtiva.

Um dos nossos pares divulgou o link da matéria da Folha, na rede da Libre, com a interrogação: Bibliodiversidade? Ninguém na rede da Libre se pronunciou. Eu também não me pronunciei, porque queria dizer aqui e estou preocupada com alguns eventos da Libre, especialmente com o nosso estande coletivo na Bienal do Livro de São Paulo, 2010. Ali configurou-se o priivilégio, não a ampla discussão para atrair a todos. Quando a maioria se encontrava de férias. É preciso retomar a atração dos ausentes e sua motivação.

Meu assunto é a Biblioteca do Carandiru. Aplaudo. Mas só não posso concordar, ministro João Sayad, secretário João Sayad, com a ausente preocupação com a bibliodiversidade. Os best-sellers como chamarizes, embora pareçam algo eficaz, tal fundamento motivador esgota-se logo, atende ao imediato e à desinformação além do óbvio, sabotando descobertas universais dos melhores livros e sua discrição frente ao ruidoso. O público também busca os longsellers, se a média viciada no óbvio não sabe buscar, temos de atraí-la com a bibliodiversidade, para os chamados longsellers. Uma tendência, recentemente abarcada também com festa pela Livraria da Travessa no Rio de Janeiro. O livreiro Rui Campos foi certeiro: "Sou a favor da bibliodiversidade." Atualizem-se, homens públicos e bibliotecárias de boa vontade, porque na tradicional Feira de Livros de Porto Alegre, o público reclamou por variedade. Não queria apenas a simples reprodução das vitrines das franquias livreiras e o tudo igual nas vitrines multiplicadas em uma lógica de rebanho.Sempre os mesmos livros repetidos. É um vício essa história de cultivar leitores pautando-se pelas listas dos mais vendidos, muitas vezes manipuladas. Precisamos cultivar leitores garimpeiros, não apenas chover no molhado.

Acrescente, por favor, secretário João Sayad, o conceito de bibliodiversidade (no site da Libre o senhor poderá conferir o que é, lá estampa-se o link da Travessa)na formação do acervo dessa belíssima Biblioteca.

Eu o cumprimento pela Biblioteca para substituir a barbárie, o número de consulentes que atendeu ao convite foi auspicioso, amplie o sortimento doacervo para eles. Os bons livros estão aguardando em seus primorosos catálogos, à espera de exames vituosos, sem a reprodução do vicioso que os descarta, mesmo nas escolhas governamentais para as crianças.Há uma predominância do pueril ao infantil.

Para nós, fazer livro é também fazer público. Acolha os longsellers, secretário João Sayad. Entre no site da Libre. O senhor não pode perder o sortimento das editoras independentes, fenômeno no mundo inteiro. Bem como o sortimento de todas as boas editoras, que produzem muito além dos best-sellers.

Monday, February 15, 2010

Carnaval e Sol todo 2010

Diante das fantasias do Carnaval, de todas as escolas de samba, só tenho a repetir os versos iniciais do poema que em outro Carnaval escrevi à visão da Mangueira ao amanhecer em sua glória de campeã (eu era bem uma fruta verde mas escrevi o poema para sempre), agora versos válidos para todas as visões das escolas na avenida, na tela, nos jornais e nas revistas, para todo o espetáculo este ano com livros na estante do carro alegórico, o trono do Quixote abrindo a festa e abrindo as páginas das notícias dos meus jornais matinais pela imaginação de uma União da Ilha e sua nova carnavalesca, Rosa Magalhães(trazendo ela livros para o luxo, pois livro é luxo até no cotidiano):

Aqui estou no centro
do planeta fictício
Onde não se fazem
canções do exílio.


Como bem disse Ruy Castro em sua última crônica na página 2 da Folha, não estou entre aqueles que amarram a cara, eu não amarro a cara para o Carnaval, apesar do Arnaldo Jabor detectar no espetáculo a presença do kitsch, em sua última crônica no Caderno 2 do Estadão. Joio e trigo esta seara, mas o espetáculo é mesmo o planeta fictício.

"I'm Nobody! " "Não sou Ninguém" a busca de um livro

I'm Nobody! Who are you?
Are you -- Nobody -- Too?
Then there's a pair of us?
Don't tell! they'd advertise -- You know!

How dreary -- to be -- Somebody!
How public -- like a Frog --
To tell one's name -- the livelong June --
To an admiring Bog!


(Emiily Dickinson, 1861)

Este poema de Emily Dickinson é minha paixão e Paixão. Estes versos emblemáticos "não sou ninguém/ e você, ninguém, também / então somos um par /não conte, podem espalhar" configuram minha alma profissional e pessoal. Definem a reciprocidade, esta cláusula pétrea que deveria ser respeitada em todos os contratos. O que foge a qualquer simples adesão. Prefiro a cumplicidade no meu ofício à competição. Eu busco equipe afinada, busco pares, não existe coisa quase impossível, mais trabalhosa. Às vezes existe apenas um par. Ou estamos sós com o desejo de um par. Falo de equipes de trabalho, nem toco em corporativismo. Hoje até a poesia se degenerou em corporativismos. Não há novos movimentos poéticos, mas grupos corporativistas que fazem recitais, atuantes em círculos restritos aos seus interesses imediatos. Compromisso com a poesia, nenhum. Apenas eventos que se somam às estatísticas "culturais" ou mesmo pseudoculturais. Prefiro os nomes sozinhos. Os prêmios para edição oferecidos pelas Secretarias de Cultura são cobiçados juntamente com os prêmios dos colegas. Uma festa pela autoedição, nesses casos, proliferam cooptações oportunistas. As Secretarias de Cultura deveriam tomar cuidado com essas distorções na ponta, a apropriação do público pela ambição pessoal privada.Paro por aqui, pois quero escrever sobre isto num post depois: "A Poesia hoje é corporativismo?" Onde está Mário de Andrade para aparar nossos meros lirismos quando ainda não chegamos à Poesia? Eu conheço Ivo Barroso e Ivan Junqueira, vozes discretas grandes vozes que se correspondem com alguns dos "novos poetas" (já editei Eric Ponty, um deles avaliado por eles, esta descoberta que preciso ainda cultivar na editora, apesar do temperamento, mas a voz poética é única). Onde haverá um movimento? Mas sempre sobram os poetas sozinhos. Pessoa, Baudelaire, Maiakóvski, Drummond, Cabral, este Augusto de Campos que é Augusto de Campos, poeta e tradutor de poesia, há mais nomes.

Eu soube com alegria que Augusto de Campos, pertecente ao movimento da Poesia Concreta, dera o título "Não sou ninguém" para os poemas escolhidos da obra de Emily Dickinson, que reuniu e traduziu com o esmero de seu trabalho. Fiquei "doida" para encontrar o livro. Só pensava nisso. Pessoalmente gratificada. Ratificada em minha convicção. "Não sou ninguém".

Acabei indo ao Cole, feira organizada pela Associação Brasileira de Leitura, na Unicamp, e comprei diretamente o livro no estande da Editora da Unicamp, que o editou. Guardei o livro como um troféu. Sentada no estande da Musa, lia e relia os poemas de Emily Dickinson traduzidos por Augusto de Campos, pronta a dividr tão boa notícia com os leitores do meu blog.E demorei, falando de outras coisas, prementes devido às circunstâncias. Mais premente é a eternidade deste livro, que vale por mil livros e por todos os não-livros expostos como areia pelas prateleiras gerais. Sacudir a bateia e achar esta joia. Um diamante livro.

A despojada edição é um luxo primoroso, a capa, criação de Augusto de Campos, um poema concreto, dos melhores. O livro está comigo, viaja comigo,permanece à cabeceira com os poemas de São João da Cruz traduzidos e apresentados por Marco Lucchesi, em edição bilíngue da Lacerda,como "Pequena antologia amorosa", e também o "Libro de la vida", de Santa Teresa de Ávila, publicação da Cátedra, espanhola, ainda não traduzido. Além das "Obras Completas", de Teresa de Lisieux, presente de Frei Patrício Schiadini, frade carmelita da igreja de Santa Teresinha de Higienópolis. E sempre outros clássicos, que deixo de enumerar. Para mim, a melhor história de amor da literatura universal intitula-se "O morro dos ventos uivantes". E a grande lição de autoestima autêntica é o verso de Emily Dickinson: "Não sou Ninguém!"

Que Augusto de Campos possa me permitir a citação de sua tradução, especialmente (há muitas), para o deleite do leitor, quem sabe um par, pois um livro busca entre os seus leitores seu par (o princípio da reciprocidade que norteia e gera o que é vida sempre):

"Não sou Ninguém! Quem é você?
Ninguém -- Também?
Então somos um par?
Não conte! Podem espalhar!

Que triste -- ser -- Alguém!
Que pública -- a Fama --
Dizer seu nome -- como a Rã --
Para as palmas da Lama!"

(Trad. de Augusto de Campos,Campinas, Editora da Unicamp, 2009, p.41)